“A importância da realização dessa Parada é que ela traz publicamente a reivindicação de quem é discriminado, por mais respeito e por mais amor, e que como todos nós, carecem de um tratamento social de mais afeto e consideração para as suas velhices com suas preferências e identidades na expressão maior do amor que trazem na alma.”
Acontece neste domingo (22) em São Paulo, mais uma Parada do Orgulho, a 29ª. Com um motivo super interessante e que precisa ser visto e respeitado: o envelhecimento de todos nós, o envelhecimento LGBT 60+. Não quero fazer nenhuma distinção, longe disso; muito menos, nenhum julgamento pessoal, por conta da construção das subjetividades das pessoas ao envelhecerem; desejo valorizar a importância da realização de mais uma Parada do Orgulho para chamar a atenção de toda a sociedade, de que todos nós envelhecemos, e que, há entre nós, muito mais semelhanças do que diferenças por conta da nossa definição, orientação ou identidade sexual.
Mas devo admitir e admito – o que vocês acham, caros leitores e leitoras, quando eu escrevo que essas pautas ainda são poucas faladas publicamente: sexo e velhice? É como se elas não existissem no nosso destino humano de viver. Como vivemos numa sociedade etarista que condena a todos nós que envelhecemos a um lugar de não existir, de não amar e de não sermos amados, a intimidade fica completamente rejeitada nas nossas relações sociais e ainda é motivo de muitos preconceitos e anulação da nossa capacidade de amar independentemente da idade e do gênero.
O tema definido pela organização para a Parada desse ano acontece em plena mudança do perfil etário da nossa população, no nosso país e em nossas cidades, como aqui em Juiz de Fora, que é o aumento expressivo do número de pessoas com a idade de 65 anos ou mais. Dos 203,1 milhões de brasileiros, 22,2 milhões estão nessa faixa etária.(IBGE, 2023). É uma pena que o Censo não traga números sobre a comunidade LGBT 60+. O que reproduz a invisibilidade social dessa realidade existente entre nós, dentro dos nossos círculos de amizades e familiares.
A importância da realização dessa Parada é que ela traz publicamente a reivindicação de quem é discriminado, por mais respeito e por mais amor, e que como todos nós, carecem de um tratamento social de mais afeto e consideração para as suas velhices com suas preferências e identidades na expressão maior do amor que trazem na alma.
Mais do que ser um evento midiático, mais do que ser um desfile com personagens divertidos, alegres e bem-humorados, o que é bacana, a Parada do Orgulho deve ser vista com uma atividade política, reivindicatória e não apenas como uma festa. Trata-se de se constituir numa organização coletiva que está reunida, que está nas ruas e nas avenidas, exigindo cidadania e o seu direito de envelhecer, como são; como se encontram no melhor modo de ser, delas mesmas; sendo elas mesmas, principalmente nessa fase da vida, que é a oportunidade que temos para a gente ser aquilo que sempre desejamos ser, sem amarras e livres para existir. Custe o que custar.
Naturalmente, é preciso ter coragem. Para que a coragem seja nossa companheira desde cedo, é preciso que uma nova educação social seja construída para que assuntos como esses sejam apropriados criticamente pelas gerações futuras e re/pensados pelas gerações já maduras. É muito bom saber e perceber que esses temas, longevidade, sexualidade e comunidade LGBT 60+, estão sendo trazidos, debatidos e vistos em algumas edições culturais: no cinema, no teatro e entre outras manifestações.
Se ainda guardamos resistências culturais e sociais nas nossas relações com o nosso envelhecimento, e com tudo que ele traz, de ganhos e perdas, como em qualquer fase da nossa vida; mais ainda, torna-se fundamental vivenciar essa realidade conjugada com a expressão de nossa sexualidade, tendo em vista, alcançar um grau maior de liberdade em nós mesmos para guardarmos fidelidade ao que um dia desejávamos ser.
fonte: https://tribunademinas.com.br/colunas/apessoaidosaeacidade/22-06-2025/envelhecimento-lgbts-60.html