O nosso envelhecimento não é apenas uma estatística. Ele é real. É um desafio social, econômico, ético e político. Nossa cidade, como tantas outras, vê crescer o número de pessoas idosas. São pessoas que construíram o patrimônio da cidade, movimentaram seu comércio, educaram gerações, e agora, deparam-se com o abandono silencioso de uma cidade, que parece não ter sido planejada para elas(e não é mesmo!).
O idoso, antes, uma pessoa respeitada e central na família e na comunidade, muitas vezes, encontra ruas pouco iluminadas, filas imensas nas agências bancárias, transporte público inadequado e serviços de saúde insuficientes para suas necessidades específicas. Que são muitas e variadas. O tempo não para, e a cidade, se quiser continuar sendo um espaço de vida e de encontros, precisa aprender a envelhecer junto com seus moradores.
Somos mais de 100 mil pessoas em JF. Envelhecer é um direito de todas e de todos. Envelhecer é uma conquista civilizatória. Viver mais tempo é o que acontece com a gente agora, é sinal de que temos avanços sociais, avanços médicos e avanços culturais nessa “revolução da longevidade”, conforme nos aponta essa realidade, o Dr.Alexandre Kalache, estudioso e pesquisador – referência nesse assunto e que está lançando seu livro de mesmo nome – Revolução da Longevidade – nas principais capitais brasileiras.
No entanto, o desafio, a luta diária, a luta de todos os dias, entra gestão pública, sai gestão pública, é transformar essa conquista da longevidade em melhorias reais na vida das pessoas idosas: é ter políticas públicas, de verdade, eficazes, que reconheçam o envelhecimento como um fenômeno urbano e que faz parte viva da cidade. As pessoas vivem nas cidades. As pessoas envelhecem nas cidades. A velhice é urbana.
A questão do envelhecimento na cidade não é apenas de saúde ou de previdência: a questão é de mobilidade, de habitação, convivência e de pertencimento. A passagem do tempo em nós, em cada um de nós, não pode tirar da gente o direito de pertencermos à cidade. JF envelhece e o futuro exige mais cuidado e empatia com as necessidades das pessoas idosas, de todos nós que envelhecemos.
O envelhecimento é o novo desafio da cidade, mas é também a sua nova chance de se tornar uma cidade amiga da pessoa idosa. De se tornar uma cidade que refaça os seus espaços urbanos, os seus serviços públicos e suas relações com os mais velhos. Porque certamente, uma cidade que respeita e celebra seus idosos é uma cidade que respeita e celebra a vida em todas as suas fases.
Envelhecer é inevitável, inexorável. A não ser que a gente parta antes da hora. Envelhecer invisível, como estamos, não deveria ser um destino. Precisamos fazer uma nova cidade. O novo desafio local é a cidade cuidar de todos os seus moradores, de todos os seus habitantes, honrando o passado, valorizando o presente e preparando um futuro que pulsa com memória, cuidado e beleza.
Fonte: Jose Anisio Pitico
Assistente social e gerontólogo. De Porciúncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar e mantém o canal Longevidades no Youtube (@Longevidades).
