Vivemos num mundo de muitas calamidades extremas. Nosso planeta aquece rapidamente, os eventos climáticos se intensificam e são diversos a ponto de alguns ativistas utilizarem a expressão “urgência” ao invés de emergência climática.
Diante dessa realidade ameaçadora de nossas vidas, nossas cidades tornam-se territórios de riscos para seus moradores (alguns: os mesmos!). Por aqui, por onde passa o Paraibuna, como diria o poeta, “feliz é ele porque está de passagem”, porém, de um modo bem devagar, quase parando; bairros como o de Santa Luzia, Mariano Procópio, Democrata e Bairro Industrial sofrem, desde há muito tempo, com a chegada das chuvas.
E vem chuva aí, gente! Na companhia da primavera. Desses moradores das regiões mencionadas acima, os que mais sofrem, os que são mais afetados com prejuízos materiais e perdas de suas vidas, são os moradores idosos. Aqueles que apresentam fisiologicamente mobilidade reduzida; têm condições crônicas de doenças; dependem de muitos medicamentos e sobretudo, aqueles idosos que tem dificuldades de se deslocarem em casos de saídas e deslocamentos emergenciais.
O Brasil vive uma transição demográfica acelerada. Como acontece também em nossa cidade. JF conta com mais de 100 mil pessoas 60+. Seremos mais pessoas idosas do que crianças. É sim uma conquista a ser celebrada o alcance de nossa longevidade. Mas essa conquista de um maior tempo de vida, torna vulnerável o nosso presente diante das mudanças no clima, associado à nossa inércia pela ausência de políticas urbanas robustas de proteção social às pessoas idosas.
Precisamos mudar o nosso enfoque político de planejamento para as cidades: incluir as pessoas idosas. Privilegiar o consumo apenas e a velocidade dos carros em nosso circuito e deixando as pessoas, de lado; esquecidas; principalmente as que mais precisam de cuidados, não nos leva a garantia de um futuro sustentável. A emergência climática não atinge a todos da mesma forma. Ela aprofunda as desigualdades já existentes e conhecidas: as pessoas idosas, as pessoas pobres, negras, periféricas e com deficiências. Essas sofrem pesadamente com essa realidade.
Muitas dessas pessoas, uma grande maioria delas, vivem/moram em territórios de riscos, sem acesso e sem saneamento. Quando a catástrofe chega e chega todo período de ocorrências de chuvas, por exemplo, é sobre essa gente que a vida delas fica suspensa por um barranco que pode ceder. Enfrentar a crise climática ou responder à urgência climática exige ações políticas e públicas de justiça social.
O que deve ser traduzido em incluir, ouvir, respeitar e envolver as pessoas mais velhas nos processos de decisão sobre a vida delas: seus saberes, suas memórias e suas experiências são ferramentas importantes na construção de soluções sustentáveis e comunitárias. Uma cidade preparada e comprometida para o enfrentamento dos reveses climáticos tão presentes no nosso cotidiano é aquela que acolhe a infância, respeita a adolescência e cuida da velhice. Envelhecer é um direito. E num mundo em crise é também um ato de resistência.
Jose Anisio Pitico
Assistente social e gerontólogo. De Porciúncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar. Também é colaborador da Rádio CBN Juiz de Fora com a coluna Melhor Idade.